Da fusão de três culturas – a indígena, das tribos existentes à época da colonização; a negra, dos escravos africanos; e a européia, do português -, nasceram as danças folclóricas brasileiras.
Surgidas no seio do povo e transmitidas ao longo das gerações, as danças folclóricas brasileiras representam fatos e passagens das origens culturais do Brasil, inspiradas em rituais religiosos pagãos e cristãos. Um dos elementos comuns a muitas delas é o cortejo, que assume por vezes importância maior que a própria ação. O cortejo é originário de uma mistura das procissões jesuíticas – das quais participavam os fiéis, os cristãos-novos e os gentios, com suas roupas de festa e instrumentos musicais – e também dos cortejos africanos. Os participantes seguiam de casa em casa, cantando e dançando até o local da representação, chamada embaixada.
Essas danças podem ser divididas em três grupos principais: os pastoris, as cheganças e os reisados. Os primeiros são realizados no período natalino, e apresentam duas modalidades: a lapinha e o pastoril propriamente dito. A lapinha, dançada na sala da casa, diante do presépio, por meninas vestidas de pastoras, celebra o nascimento de Cristo. As pastorinhas formam dois cordões: o encarnado, liderado pela mestra, e o azul, pela contramestra. A disputa entre os dois cordões é aproveitada como forma de angariar fundos para as obras sociais da paróquia, pois a cotação de cada cordão vai subindo de acordo com as doações pecuniárias de seus defensores. O pastoril, executado sobre um tablado ao ar livre, tem caráter profano e satírico, e é dançado e cantado por mulheres, dirigidas por um personagem cômico: o cebola, o velho, o saloio, o marujo etc.
As cheganças, executadas em cenário que representa uma grande embarcação e com muitos participantes, têm como tema principal as lutas marítimas e são uma herança cultural das guerras dos cristãos portugueses contra o invasor mouro, daí chamarem-se também cristãos-e-mouros. Existem a chegança dos marujos, que é a marujada ou fandango, e a chegança de mouros, que é a chegança propriamente dita. Representada como uma série de cenas marítimas, culmina com a abordagem dos mouros, que são vencidos e batizados. Em alguns lugares, a chegança denomina-se barca.
O reisado é tradicionalmente executado na véspera do dia de Reis e consiste em uma adaptação coreográfica dramatizada de antigos romances e cantigas populares. A princípio estruturava-se geralmente em um episódio único e podia ser mostrado como um cortejo de pedintes que cantavam versos religiosos ou humorísticos, ou representavam autos sacros sobre a vida de Cristo. Depois incorporou-se a apresentação do bumba-meu-boi, personagem originado dos presépios, que passou a ser apresentado isoladamente, em especial nos festejos juninos.
O bumba-meu-boi, também chamado boi-bumbá ou boi-sumbi, é a dança mais conhecida e popular. Mais simples que as cheganças e os pastoris, que exigem um tablado para serem executadas, o bumba-meu-boi precisa apenas de espaço livre. O enredo do auto se modifica de região para região e não há um modelo fixo de trama.
Há outras formas de danças dramáticas ainda praticadas no Brasil, com maiores ou menores modificações em relação a sua representação original, conforme a região onde são realizadas. Os congos e as congadas, que em sua forma mais primitiva são apenas um cortejo real onde se desfila com cantos e danças, revivem, por meio da ação dramática, as passagens e os costumes da vida tribal africana.
O maracatu é uma derivação das congadas e tem maior penetração em Pernambuco. A dança desenvolve a ação proposta pelos congos, e mantém os personagens básicos: o rei, a rainha e o embaixador. Os cordões de maracatu saem no carnaval e cada um deles leva um nome especial, de origem religiosa ou geográfica, precedido da palavra nação.
Outra dança de carnaval é a dos caboclinhos, de origem indígena, ao som de percussão, sem cantigas e de figurações primárias. Os personagens, fantasiados de índios, simulam movimentos de ataque e defesa. O elemento coreográfico supera o musical e exige um certo virtuosismo dos dançarinos.
Os moçambiques, bailado popular que faz parte dos festejos do Divino Espírito Santo, não apresentam enredo dramático. Originado provavelmente entre os escravos das minas de ouro do Brasil colonial, consiste em um cortejo que desfila dançando pelas ruas. O bailado não segue coreografia predeterminada, e entre um número musical e outro são feitas louvações semelhantes aos cantochões, mais gemidas que cantadas.
Outras formas de dança, que tiveram momentos de maior ou menor penetração no passado, são o lundu, o coco e o cateretê. O lundu, nascido nas senzalas, ganhou as ruas e chegou a penetrar nos palacetes.
O coco, dança popular nordestina, do sertão e do litoral, onde é também chamada coco-de-praia, tem origem africana. A coreografia é semelhante à do bailado indígena, com inúmeras variações. A mais comum é a roda de homens e mulheres, que cantam versos entremeados pelo refrão do solista, chamado “tirador do coco”. Para o ritmo, geralmente usam-se apenas as palmas, o zabumba e o ganzá.
O cateretê é uma dança de par, originária da região sul, do período colonial. Apresenta alguns elementos fixos, com duas filas dirigidas por violeiros, uma de homens e outra de mulheres, que dançam ao som de palmas e batidas nos pés.
As danças de quadrilha ocorrem durante as festas juninas, dedicadas a santo Antônio, são João e são Pedro. Tradição difundida nacionalmente, mantém-se mais forte no Nordeste, especialmente nas cidades do interior. São danças de par realizadas coletivamente, sob a coordenação de um mestre-de-cerimônias, que comanda os passos. É evidente a origem européia, tanto pela coreografia como pelas expressões de comando, gritadas em uma espécie de francês aportuguesado, como “anavantu” (en avant tous!, “todos à frente!”) e “anarriê” (en arrière!, “para trás!”).
A ciranda, de origem portuguesa, é dançada em rodas concêntricas, homens por dentro e mulheres por fora. Música e letra são originalmente portuguesas, embora já totalmente abrasileiradas. Existe uma versão infantil, que lhe é anterior, a cirandinha, famosa pela letra e música – Ciranda, cirandinha / vamos todos cirandar / Vamos dar a meia-volta / volta-e-meia vamos dar – que atravessou séculos sem alteração, como costuma acontecer com as brincadeiras infantis.